Excertos da entrevista a Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, publicada hoje no CM:
Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, acusa o ministro da Saúde de ser desleal com os médicos. Ataca Correia de Campos pelas trapalhadas no fecho de Urgências e maternidades e afirma que o melhor seria o ministro dar algumas terras a Espanha para os portugueses terem direito aos tratamentos que lhes são negados em Portugal. Optimista, afirma que dentro de dez anos acaba a falta de médicos.
Correio da Manhã – O ministro Correia de Campos anda a fazer política baixa com os médicos?
Pedro Nunes – Anda a fazer política desleal com os médicos porque ele sabe que a Ordem dos Médicos sofreu uma alteração significativa com este mandato. A Ordem aposta na colaboração técnica com o Governo que estiver, qualquer Governo.
– A Ordem apoiou o fecho das maternidades.
– Sim, é verdade.
– O que é que correu mal?
– É aí que eu falo em deslealdade. Foram fechadas maternidades para concentrar meios. E o que é que aconteceu? Fechou-se a maternidade de Mirandela, fechou-se a maternidade da Régua, as grávidas são transferidas para Vila Real e chega-se a Vila Real e encontra-se uma equipa abaixo do mínimo definido. Chega-se a Setúbal e há uma equipa abaixo do mínimo.
– Ou envia-se doentes para o estrangeiro, como no caso das grávidas de Elvas...
– Claro. Imagine se todos os ministros da União Europeia tivessem a lógica deste ministro. Não temos problema nenhum, pagamos ali ao país do lado e as mulheres vão lá ter filhos. Claro que ao fim de algum tempo não tínhamos serviços e os doentes iam ser tratados ao estrangeiro. Em última análise o Governo português pode pedir aos espanhóis que considerem que o nosso rei D. Dinis era um atrasado mental, revoga-se o Tratado de Alcanizes, que definiu as fronteiras com Espanha, e dá-se aos espanhóis uma série de terras, como Trás-os-Montes e a Beira Interior. Estamos perto de algumas cidades espanholas e resolve-se tudo. Ora a obrigação do ministro da Saúde português é garantir aos portugueses tratamentos no seu território.
– O ministro não cumpriu os compromissos?
– Não cumpriu. A Ordem dos Médicos acabou por dar cobertura técnica ao Ministério para fazer uma reforma e o ministro não cumpriu o acordo que tinha feito connosco e os compromissos assumidos publicamente. É aqui que falo em deslealdade.
– A deslealdade de que tem vindo a falar aconteceu só no caso das maternidades?
– Não. Deixe-me dar outro exemplo. Na matéria das Urgências o ministro nomeou uma comissão, não pediu opinião à Ordem, nem sequer pediu que a Ordem contribuísse para a nomeação dessa comissão. Mas é indiscutível que é formada por médicos de qualidade, que fizeram um trabalho competente e a Ordem obviamente apoiou-os.
– Uma trapalhada?
– Uma trapalhada feita com o objectivo de encerrar os SAP e assim poupar algum dinheiro, colocando os médicos da comissão numa posição extremamente difícil, porque acabaram por ser eles o alvo das críticas, justas e perfeitamente lícitas, das populações. Não foi o ministro, que estava a encerrar o que ninguém lhe tinha dito para encerrar. O ministro usou a comissão como capa, como argumento para fechar serviços, que de facto não são de Urgência mas que enquanto não forem criados os tais serviços de Urgência que a comissão propôs não podem ser encerrados.