Polícias têm de prender para cumprir númerosVárias esquadras do país estão a impor "números-base" de detenções a fazer até ao fim do ano. Os polícias queixam-se de que assim só trabalham para as estatísticas. A Direcção da PSP prefere falar em prevenção da criminalidade.
"Maior actividade operacional. Objectivo: 250 detenções". As instruções são claras e constam num um papel afixado na 2ª Esquadra de Investigação Criminal da PSP do Porto (Rua da Boavista). O documento, datado de Fevereiro, estabelece as metas a cumprir nos restantes dez meses do ano.
De acordo com elementos policiais contactados pelo JN, aquele é um dos muitos exemplos de uma realidade com cada vez mais expressão em diversos pontos do país. E que está a ser levada bem a sério pelos profissionais da PSP, devido ao facto de terem interiorizado que o número de detenções também contribui para as respectivas avaliações e consequente progressão de carreira.
O princípio está a gerar contestação no meio policial. Há quem alerte que, num contexto destes, "a quantidade sobrepõe-se à qualidade". "Assim, corre-se o risco de haver uma polícia mais repressiva do que preventiva. De se valorizar mais o trabalho estatístico do que o que deve ser feito em prol da sociedade", sublinhou um agente, que pediu o anonimato. |
Não vai ser, digo eu, com estes critérios que se aumentam, de forma consistente, os níveis de segurança pública, em Portugal. Na verdade, um posto policial pode atingir excelentes resultados de serviço, em sucessivos períodos de tempo, sem ter feito uma única detenção, bastando, para isso, que a sua acção operacional preventiva, consubstanciada por um rigoroso patrulhamento da área de responsabilidade que lhe está atribuída, evite as circunstâncias determinantes da detenção de pessoas. Mais: que dessa acção resulte a não ocorrência (ou a ocorrência moderada) de situações perturbadoras da ordem e tranquilidade públicas.