O Tenente Valério foi um dos primeiros Comandantes do Destacamento de Trânsito de Lisboa (DT 21), com sede nas Janelas Verdes. Era um homem simples, bonacheirão, amigo do seu amigo e com um coração do tamanho do mundo. Ao mesmo tempo, todavia, era de uma competência invejável e um excelente exemplo para todos -subordinados e superiores. Residia em S.João do Estoril, onde regressava, frequentemente, fora de horas, depois de mais um dia de intenso trabalho.
Certo dia, ao fim da tarde, de regresso a casa, no seu Renault Gordini, acompanhado pela esposa, apercebendo-se de que uma viatura estava indevidamente estacionada em plena estrada marginal, parou junto da mesma, para se inteirar das razões da situação irregular. O jovem condutor, interpelado pelo Tenente Valério, começou por dizer que a paragem se devia a uma avaria mecânica. Confrontado, porém, com o recurso a uma ajuda técnica, facilmente acessível na zona, o jovem acabou por confessar que, afinal, era apenas...falta de gasolina e que não tinha, sequer, dinheiro para adquiri-la. Pois o bom do Tenente Valério foi à bomba mais próxima comprar combustível suficiente para desenrascar o jovem, voltou ao local onde a viatura estava parada e só depois, ciente de que tinha cumprido exemplarmente a sua obrigação de auxílio aos condutores (uma das regras principais que tinha sido estabelecida, logo no início da existência da BT), regressou a casa, sem conhecida moléstia, ou desagrado, da esposa.
No dia seguinte, já no quartel, o Tenente Valério foi surpreendido com outra versão do seu generoso comportamento: o carro tinha sido furtado e o jovem não era mesmo o seu dono!!!
No resto, ficou, apenas, um minuto de galhofa e, acima de tudo, mais um sinal insofismável da excelente formação moral do militar.
Ao contar esta singela história sobre os primórdios da jovem Unidade da Guarda, curvo-me, com respeito, perante a memória do Tenente Valério, entretanto falecido.