Dá que pensar, este recente artigo de Tavares Moreira, deixado, na minha caixa de correio, por mão amiga.
Os sublinhados são meus.
"Ainda não invertemos a insustentável tendência do endividamento externo"
É curioso como ainda se admite entre nós, ao mais alto nível, a possibilidade de travar o aumento de endividamento ao exterior…
2. Esta afirmação é particularmente interessante numa altura em que o ritmo de endividamento ao exterior se encontra em forte aceleração.
Segundo os últimos dados das contas com o exterior, referentes ao período Jan-Julho, o défice corrente com o exterior aumentou quase 40% em relação a 2007...e entrando em conta com as transferências de capital da EU, o aumento é de 34%...
Preparamo-nos este ano para um défice externo corrente da ordem de 12 a 13% do PIB, talvez o maior da nossa história recente...
3. É também muito interessante comparar estes dados com os do ano “horribilis” 2004 (S. Lopes) - classificado pelos nossos clarividentes media como “benchmark” de má governação – essa comparação dá um agravamento do endividamento ao exterior em 2008 da ordem de 150%...
E isto, note-se bem, depois de 3 anos de proclamada e não contestada “consolidação orçamental” e de uma política económica que tem sido assumida como de “rigor”…E para mais num ano em que a actividade económica se mostra praticamente estagnada…
4. Limito-me a perguntar, na minha ignorância – desculpável julgo num cidadão que é estranho ao sistema/poder e por isso não tem obrigação de conhecer todos os dados - como é possível falar-se em “…inverter a insustentável tendência de endividamento…” no contexto em que a política económica tem sido conduzida e tendo em conta que utilizamos uma moeda cujo valor externo não podemos gerir…
5 Tal afirmação, cuja bondade “teórica” não se disputa, encontra-se ferida duma impossibilidade prática e, como tal, assume a natureza de voto piedoso...
Como cidadão mal informado, é certo, estou persuadido de que a “insustentável tendência do endividamento ao exterior” vai prosseguir firmemente…até que o mercado nos aplique um “garrote” técnico, sob a forma de custos insuportáveis dos empréstimos obtidos…
Esse “garrote” está em fase embrionária, alguns dos seus efeitos começaram a fazer-se sentir…mas ainda longe do enorme “sufoco” a que nos estamos a candidatar - se não invertermos o tipo de opções económico-políticas que tem sido privilegiado e que o discurso oficial não deixa quaisquer dúvidas que vai continuar!
6. Resta acrescentar que esta passagem do discurso presidencial terá sido das menos comentadas...pudera!