Eu já sabia, naturalmente, que o meu tio Anacleto -beirão dos quatro costados- era um prosaico e distinto pensador. E forte crítico, também, de tudo o que de mal feito, no seu selectivo entender, se vai fazendo nesta terra. O que eu não sabia, de verdade, é que ele se aperfeiçoara ao ponto de, agora, se dar ao luxo de ilustrar, vernaculamente, os seus pensamentos.
"Daí vem o caso, talvez único na Europa, de um povo que não só desconhece o
patriotismo, que não só ignora o sentimento espontâneo de respeito e amor pelas suas tradições, pelas suas instituições, pelos seus homens superiores; que não só vive de copiar, literária e politicamente, a França, de um modo servil e indiscreto; que não só não possui uma alma social, mas se compraz em escarnecer de si próprio, com os nomes mais ridículos e o desdém mais burlesco. Quando uma nação se condena pela boca de seus próprios filhos, é difícil, senão impossível, descortinar o futuro de quem perdeu por tal forma a consciência a dignidade colectiva."
Oliveira Martins, História de Portugal, 1879
Julgo que já não é a primeira vez que aqui trago este excelente e muito específico texto de Oliveira Martins. Repito hoje a dose. Não sei bem a que propósito, ou, mesmo, se haverá algum propósito, nesta repetição. Um impulso houve, certamente. Talvez vindo da leitura da imprensa de hoje, que nos traz, mais uma vez, a imagem de que nos condenamos, como NAÇÃO, pela nossa própria boca.
VIRGINDADE AUTENTICADA
No arquivo distrital de Viseu existe um documento cuja data não nos foi possível precisar, mas que nos parece ser do início deste século.
É um certificado passado por uma parteira da época, chamada Bárbara Emília, natural de Coira , Viseu, a pedido de uma jovem que pretendia libertar-se da difamação e provar a sua virgindade, para contrair casamento.
O documento dizia assim:
"Eu Bárbara Emília, parteira que sou de Coira , atesto e certufico pela minha onra que Maria de Jesus tem as partes fudengas tal e qual como nasceu, insceto umas pequenas noidas negras junto dos montes da crica que a não serem da nascença sarão provenientes de marradas de piça ."
Nos dias de hoje, sob o signo do famoso "simplex ", para se atestar esta coisa tão simples, seria necessário, certamente, realizar várias juntas médicas e, depois, esperar alguns anos por uma decisão judicial.
Naquele tempo, bastou a palavra certa da parteira Emília.
Então não é que o Director Nacional da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro, ainda é Director Nacional da Polícia Judiciária ?????
Dantes e durante muitos anos, jogava-se, simplesmente, no WM . Não era preciso mais nada para que as equipas de futebol, designadamente as mais cotadas, proporcionassem aos adeptos da modalidade extraordinários espectáculos desportivos.
Hoje, os treinadores/doutores multiplicam, até ao infinito, os esquemas de jogo: o 3-5-2, o 4-4-2, o losango aberto ou invertido, o 4-5-1 e, mais recentemente, a pirâmide. Mas há mais variedades, muitas mais, como aquela que, ainda ontem, o Sporting apresentou no jogo com o Belenenses, isto é, tudo ao monte e fé em Deus.
Naquele tempo, era assim: na baliza, Azevedo; o M era constituido pelos defesas Cardoso e Manuel Marques (o do lencinho pendurado nos calções) e pelos médios Canário, Barrosa e Veríssimo; no W lá estavam os cinco violinos -Jesus Correis, Vasques (o galgo de raça), Peyroteu, Travassos (o zé da europa) e Albano. A linha completa lia-se assim: Azevedo, Cardoso e Manuel Marques; Canário, Barrosa e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteu, Travassos e Albano.
Outros tempos, certamente.
Outros futebóis, também.
As minhas turbulências e inquietações interiores somem-se, ou reduzem-se substancialmente, cada vez que aponto os meus sentidos para a serenidade que salta da imagem esplendorosa deste homem.
Está tudo aqui. Não falta nada. Acima de tudo, está o clarão da sabedoria e a brancura da pureza.
Foi com este livro que terminei, já lá vão uns anitos, a minha "licenciatura" na IV Classe do Ensino Primário Elementar. E sublinho, na verdade, "licenciatura" porque sabia mais, nesse tempo, do que muitos licenciados de hoje.
As reformas do Concelho no Século XIX
A vila de Sobral de Monte Agraço foi elevada a sede de Concelho em 1821, abrangendo apenas a freguesia de S. Salvador do Mundo. O Concelho foi extinto em 1832 e restaurado em 1836, passando a abranger também a freguesia de S. Quintino que até então pertencia ao termo de Lisboa.
O Concelho volta a ser extinto em 1855 e as freguesias anexadas ao Concelho de Arruda dos Vinhos. A 10 de Fevereiro de 1887 é decretada a transferência da sede do concelho de Arruda para Sobral de Monte Agraço.
Em 1895 o concelho de Sobral de Monte Agraço volta a ser extinto e incorporado no de Torres Vedras.
Por Decreto de 13 de Janeiro de 1898 é restaurado o concelho do Sobral com a freguesia de Sapataria. Foi esta a última reforma do Concelho, que se constitui então com aquelas que são ainda hoje as suas freguesias: S. Quintino, Sapataria e Sobral de Monte Agraço.
Termino aqui, com este sétimo post , a história, resumida, do meu concelho -SOBRAL DE MONTE AGRAÇO. Com este singelo exercício recordatório, avivei, gostosamente, as memórias do tempo e a minha própria memória.