Agora, que já temos maternidades, centros de saúde e hospitais mais do que suficientes, que a criminalidade violenta baixou substancialmente (para não dizer que sumiu, de vez), que a paz social se instalou definitivamente entre nós, que já não se fala em greves, que já não se anunciam encerramentos de empresas, que o desemprego baixou para números verdadeiramente extraordinários, que o nível de vida (incluindo o poder de compra) dos portugueses se compara já ao dos espanhóis, que todos bens essenciais estão, finalmente, a preços perfeitamente aceitáveis por todas as bolsas , que as instituições financeiras reduziram, drástica e voluntariamente os seus lucros, por forma a também contribuírem para esta onda de felicidade que percorre o país, que os pobres são hoje em menor número e que os que persistem, teimosamente, em permanecer nessa situação estão, sem qualquer dúvida, menos pobres do que antes, que o orçamento para 2008 acaba de ser aprovado na AR, por consenso de todas as bancadas e, pasme-se, por aclamação geral (fiquei, especialmente, emocionado com o caloroso e frenético aperto de mão entre o PM e o tesoureiro santos!!!), que o simplex corre às mil maravilhas, que a empresa na hora está em vias de passar a ser empresa no minuto, que o serviço nacional de saúde está agora como nunca esteve, que se regista, finalmente, a tão desejada paz entre os Professores e o ministério da educação, etc , etc , etc , posso, enfim, tranquilamente, neste Outono prazenteiro e suave, viver e apreciar a passagem do tempo, com a certeza de que os vindouros nos vão agradecer, a todos nós, a excelente herança de felicidade e progresso que lhes legamos.
Como vai ser bom poder reler agora, sem constrangimentos de qualquer ordem, os Novos Contos da Montanha, do indomável Miguel Torga.