Segurança Social garante estabilidade do sistema
Polémica Vieira da Silva contraria tom alarmista de Teixeira dos Santos sobre falência do sistema Medidas em vigor preconizadas pelo Governo deverão evitar o pior em 2015
OMinistério do Trabalho e da Segurança Social (MTSS) reafirma o objectivo de encerrar este ano com um saldo positivo de 101 milhões de euros. Além disso, a mesma fonte lembra uma série de medidas já tomadas no sentido de garantir a sustentabilidade financeira, contrariando, desse modo, as declarações do ministro das Finanças sobre a ruptura, dentro de 10 anos, da Segurança Social (SS).
Anteontem, num programa televisivo, Teixeira dos Santos referiu-se à falência do Fundo de Estabilização da SS dentro de 10 anos, se nada fosse feito, um cenário já previsto no Relatório de Sustentabilidade Financeira da SS. No entanto, ontem, o próprio ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José Vieira da Silva, optou por um tom mais sereno e disse que existem condições para vencer as dificuldades de sustentabilidade da SS, desde que sejam tomadas as medidas adequadas. Fonte do Ministério das Finanças garante que o ministro quis fazer apenas um novo alerta sobre o sistema de SS no contexto de um debate televisivo sobre as perspectivas para este ano, e nada mais. (JN, de hoje)
Haverá melhor exemplo de chantagem política do que as declarações "dramáticas" proferidas, na última 2ª feira, na RTP, no programa Prós e Contras, pelo sr ministro das Finanças? Isto é: ou aceitam, de bico calado, aquilo que nós queremos fazer, ou, então, o mais tardar em 2015, o Estado não pode pagar aos pensionistas as respectivas pensões. Esta é, do meu ponto de vista, uma grosseira e intolerável maneira de fazer política -a que os "yes man" chamam, naturalmente, de "realista".
Pelo que li e ouvi, desde então, as "coisas" não são bem assim, porque há "considerandos" importantes de análise que não foram ponderados -sabe-se lá porquê- pelo ministro Santos. Afinal ainda há esperança de salvar o doente -disse já o ministro da Segurança Social. Isto é: tal como nas "presidenciais", a "oposição" vem mesmo de dentro do PS. Por isso, é oportuna esta pergunta, já feita, à boca cheia, por muita gente: o maior partido da oposição -o PPD/PSD- fechou para obras, perdeu o pio ou prepara-se para abrir falência, seguindo o exemplo, aliás, da falência da Segurança Social, publicamente prevista pelo sr ministro das Finanças?
Não resisto à tentação de publicar aqui, com a devida vénia, esta excelente "foto" da actualidade portuguesa:
DEVIDA COMÉDIA
por Miguel Carvalho in "Visão" on line
Quarta, 14 Dezembro 2005
Conversa-se num telemóvel XPTO, terceira geração, câmara fotográfica, vídeo, Internet. Só lhe falta fazer café e vomitar faxes. Mas não tem rede nos sítios mais improváveis e ouve-se as pessoas como se estivesse no Bangladesh.Escreve-se num computador com memória de elefante e rapidez de fórmula 1 que, por capricho, bloqueia nas partes boas do texto e se estampa a arquivar o que preciso. Ignorante de pai e mãe, o bichinho tem o corta e cola e outras ferramentas de grande utilidade para os iletrados preguiçosos e analfabrutos de serviço. Almoça-se uma sopa e um croquete ao balcão para pagar o carro, a casa, o ecrã plasma e o adolescente lá de casa que trocou a mesada pelo mensalão.Lê-se (lê-se?) jornais giros, carregadinhos de suplementos e fascículos sobre o brinco através dos tempos ou outros coleccionáveis sobre as cuecas das misses. Também oferecem faqueiros, crucifixos, bolas de futebol, berlindes, panos de cozinha e atoalhados. Às vezes também têm notícias.Modernos que são, fecham a edição cedo. Normalmente depois dos telejornais das oito, não vá um camião desgovernado matar três pessoas na A1 ou um tresloucado varrer a família à sacholada, coisas que dão sempre boas notícias, como se sabe.Os telejornais entretêm, os reality-shows são notícia.Os jornalistas andam de avião, jogam golfe, dão entrevistas íntimas, mostram os filhos e cão. Jantam com o patrão, no crédito têm mais de um cartão. As putas escrevem livros. Sim, as putas escrevem livros e há quem os publique.Trocou-se a ética pela estética, a retórica pelo pensamento, a dedicação pela sabujice, o profissionalismo pelo amadorismo pavoneante.A ignorância, a desfaçatez, o culto do umbigo, do eu e do meu, ensinam-se nas escolas e promovem-se nas empresas.Cultiva-se o físico e a flacidez da mente.Governa-se ao sabor da corrente com assessores, conselheiros, maquilhadores e chefes de gabinete.
Em Portugal, as putas já foram digníssimas senhoras de rua e boteco manhoso.Os jornais fechavam tarde, de madrugada e davam notícias.Os jornalistas já foram grandes comedores e bebedores, deitavam-se tarde e, mesmo assim, escreviam belas prosas.Comia-se sentado e bebia-se com elevação.Não publicava livros quem podia, mas quem sabia. Escrever.Lia-se a Maria e a Nova Gente, jornalismo rosa de referência antes de saber-se o que isso era.Falava-se ao telefone com tempo, escreviam-se cartas aos amigos, aos amores.A política tinha gente com nomes de peso. Agora pesa-nos até o nome dos políticos que temos.Saudosista, eu? Não, nem por sombras. Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio.E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente.