Agora, que as "águas" estão um pouco mais paradas e serenas, dou por mim a tentar recordar-me dos variadíssimos nomes de aldeias e lugares onde as devoradoras labaredas chegaram de há mais de um mês para cá, pelo menos. E não consigo recordar mais do que dois ou três nomes.
Durante este amargo período, entraram-nos casa dentro, todos os dias e às mais diferentes horas, reportagens dolorosas, das TVs, de aldeias, lugares e sítios cada qual com seu nome, como é devido. Como eu, estou certo de que muito mais gente se interrogou sobre este assunto: afinal, terão dito, o meu Portugal não é só a cidade, ou vila, onde moro e trabalho; é muito, muito mais, e eu não sabia ou, melhor, não tinha perfeita consciência disso; e lá as pessoas choram e lamentam-se com uma naturalidade cristalina, pura, própria, afinal, das pessoas simples. Um encanto de gente, agora conhecida devido ao seu real sofrimento, mostrado às escancaras, devido ao trabalho das televisões nacionais e estrangeiras. E ainda se disse, por aí, que as TVs deviam limitar as reportagens, evitando o negro da realidade. Parece mentira que alguém tenha pensado isso.
As ideias ainda as tenho baralhadas na minha cabeça, porque sofri muito com o que vi, mas já dá para perguntar: qual é o País real -aquele, espalhado por todos os recantos, com gente de idade avançada a dizer, com as lágrimas a correrem-lhe pelo rosto, que tinham perdido tudo o que amealharam, pelo trabalho, ao longo de uma viada, ou este, da grande ou pequena urbe, onde nós moramos, bem longe das "pedras lavradas" de que nos falou Torga. Para muito boa gente, estou certo disso, o País real é agora uma incerteza cruel, porque só agora conheceram os nomes dessas aldeias e lugares, e sua localizazão, no Portugal escondido dos nossos olhares, bem longe dos confortáveis apartamentos e vivendas onde vivemos.