O último postal que o meu compadre alentejano me enviou é um "espectáculo". Vou registá-lo aqui, no meu diário, para que não fique esquecido.
"Olá, compadre, boa tarde. Estou a escrever-lhe para desabafar consigo as mágoas que me vão atormentando. Veja lá que, aqui há poucos meses, houve eleições para a associação desportiva e recreativa da freguesia, tendo concorrido dois finórios, qual deles o mais vivaço. O que acabou por ganhar, não houve coisa que não prometesse ao pessoal: um centro de dia para o idosos; uma carrinha nova para transporte da rapaziada; o início da construção de uma sede como deve ser; novos baralhos de cartas para a "sueca"; bailaricos todos os quinze dias; água quente e fria canalizada para os duches dos balneários; nova pintura nas as paredes; ensino de música, no mínimo uma vez por semana. Tudo isto sem aumentar as cotas, nem o preço dos pirolitos e das cervejolas no bar. Estava-se mesmo a ver que o pessoal ia acreditar mais neste finório do que no outro e fez dele o novo presidente da nossa associação, com uma grande vantagem sobre o outro. O pior estava para vir, compadre. Assim que se apanhou no poleiro, deu o cargo de tesoureiro a um cunhado e começou a inventar desculpas para não cumprir uma só das promessas que fizera. Pior ainda, compadre. Dizendo que o cunhado encontrou o cofre da colectividade vazio, ao contrário do que constava nas actas, aumentou os preços de tudo no bar, aumentou o valor das cotas que a gente paga e qunto a obras e compras de carrinha e baralhos de cartas para a "sueca" estamos coversados.
Vá lá a gente fiar-se e acreditar num finório destes. O pessoal da freguesia está pior que etragado com isto tudo e já vai dizendo que terá que haver uma forma de correr com o finório e com o cunhado dele. O que não vai ser fácil, compadre, porque ele tem o apoio do presidente da junta. Não tenho razão, amigo compadre, para estar cheio de mágoas? Até outro dia e cumprimentos à comadre."