Ficou-me, do meu pai, entre tantas e tantas "coisas" -virtudes, defeitos, feitio, que sei eu- o gosto e o respeito pelas coisas antigas. Como ele, desde muito novo que me habituei a guardar papéis, documentos, livros, objectos, desde que o meu instinto me dissesse que aquilo era mesmo para guardar. Fiquei com o seu espólio e a ele já juntei outro tanto, recolhido e guardado ao longo da vida. O cheiro destas velharias, afinal, faz-me bem e, se fosse por isso, eu iria longe, muito longe, na vida.
Vem isto a propósito do programa RTP MEMÓRIA, por onde passo, todos os dias, como que levado por um fatalismo qualquer. A maior parte das vezes, para rever um desafio de futebol, nomeadamente aqueles em entra o meu Sporting, na altura muito mais vitorioso do que agora. Há pouco, assisti, comovido, a um programa sobre o alentejano Francisco José (o Xico Zé, cantor romântico que tanto coração de rapariga destroçou então), apresentado por outra relíquia, felizmente ainda viva, do nosso espectáculo com letra grande: Artur Agostinho.
O Xico foi, ainda novo, para o Brasil, levado por circunstâncias que não recordo (e o programa também não). O extaordinário relator de acontecimentos desportivos -em especial, futebol- foi mais tarde, também, para o Brasil, acossado pelas vicissitudes do "25 de Abril". Foi lá que escreveu, antes de regressar, o livro "PORTUGUÊS SEM PORTUGAL", que faz, naturalmente, parte da minha modesta biblioteca.
A vida é assim.