Há espectáculos que não perco, por nada desta vida, desde que saiba, naturalmente, que eles vão ocorrer. Um deles é ouvir, com olhos de ver, as inflamadas discursatas do sr Coelho, nos comícios, ou sessões de esclarecimento, do seu partido. Como teatro dramático, não conheço melhor. E o artista, seguindo à risca a refinada escola grega, arrasa, pura e simplesmente, o auditório, particularmente na parte final de cada tirada, quando acelera, até ao infinito, a sonoridade da voz e a incompostura dos gestos. Sublime.
Outro, não menos cultural, mas muito mais sereno, é ouvir os comentários do sr Gabriel Alves, ao longo da transmissão de um desafio de futebol pela RTP. Ouvi-lo discorrer sobre as estratégias e as tácticas das equipas intervenientes, sobre os diversos posicionamentos dos jogadores nas "quatro linhas", sobre os "dois para um", sobre a formação em "losango", sobre a "pirâmide invertida", etc, etc, fortalece-me o ego, retirando-me do fundo do poço da ignorância, em matéria futebolística.
Ao primeiro artista, ouvi-o há dias, em duas magistrais intervenções -em Setubal e em Evora. O segundo acabou de actuar, há pouco, no Estónia-Portugal, em "sub-21", ganho folgadamente pela equipa lusa. De futebol, ninguém sabe mais do que ele.