Acabo de ouvir as notícias das oito, numa das estações de TV. A páginas tantas, o assunto versado pelo apresentador (economia, desemprego, crescimentos vários...) propicia a entrada do comentador de serviço. Este, com ar carrancudo, mesmo assustador, despeja para ali um sem número de percentagens (para cima, para baixo, para os lados) certamente demonstrativas da sua ilustrada prelecção, de tal modo que, instintivamente, levei a mão ao bolso para me certificar que ainda lá estava a carteira.
O País tal, foi ele dizendo, cresceu mais 0,09% do que o País tal e tal, o PIB vai descer na UE, já este ano (aí por alturas do S.Martinho,provavelmente por causa da água-pé nova), o desemprego, que esteve estacionário durante o 1º semestre da presente legislatura, vai aumentar 0,0012% até meados de Outubro e tudo isto acrescido da pressão que o BCE continua a manter sobre os Países da periferia.
Toda esta arenga para concluir, digo eu, que Portugal está numa fossa e que só um milagre nos pode salvar da bancarrota.
Eu faço ideia das caretas que o meu tio Anacleto fez, na lonjura da sua aldeia, enquanto ouvia esta brilhante lição do não menos brilhante comentador. Ele e muitos mais Anacletos por esse País fora, para quem apenas conta, porque isso entendem bem, o tostão a mais ou a menos, nas contas do dia a dia. Isto é, aquele demorado comentário do especialista apenas chegou a "meia dúzia" de entendidos na "matéria". Aos restantes -a esmagadora maioria- aquela conversa fiada entrou-lhes por um ouvido e logo lhes saiu pelo outro. Ficaram na mesma, como eu.