O meu tio Anacleto, com aquele sua voz arrastada, mas firme, de beirão serrano, fez-me hoje, ao telefone, o seguinte pedido:
-Como ainda não estou velho de todo e até parece que, agora, é mesmo a hora dos velhos, não será possível, sobrinho, meter aí um empenho para um tacho, cá para o velhote? Pelo "borda d´àgua" que chega aqui à aldeia, dia sim, dia não, a gente fica a saber que ainda há uma boa fila de candidatos à porta da loja dos tachos mas, com um bom empenho, não será possível passar à frente de uns quantos gulosos? Para mais, eu até sou beirão, como o dono da loja. Veja lá isso, sobrinho, e depois diga-me alguma coisa.
Uma fala comprida, esta do meu tio Anacleto, hoje, mas que se justifica plenamente pelo seu desejo de fazer parte, festivamente, dos tais 150.000 novos empregados. Melhor dizendo: "entachados".
Vou ver o que posso fazer.